quarta-feira, 25 de abril de 2007

Marie Antoinette

Não pretendo aqui incriminar quem pensa ou crê que o cinema (sempre) deve servir à reconstituição da história, tal qual se passou, desconsiderando que toda criação é antes uma recriação, parte permanente de uma relação dialética. Eles não tem obrigação de ser peritos nesta matéria. Não faz sentido, portanto cobrar-lhes. O cinema contemporâneo não pretende contar o que de fato aconteceu. Limita-se a passar uma interpretação desse acontecido. O diretor certamente sabe que a seqüência de imagens não corresponde ao real, mas que oferece uma "representação" do passado e não a sua "reconstituição" integral, interrogando seu objeto sempre a partir do presente. Penso que exatamente por tais características, a história tem se aproximado tanto das artes, dentre elas a sétima.

Aviso aos blogonautas que o filme me pareceu um um tanto 'paradão' para uma película de 120 minutos. Alguns certamente lhe dirão "fuja desse filme!". Mas penso que isso foi absolutamente intencional! Por quê? Do meu ponto de vista, Sofia (Coppola) quis com isso enfatizar como aqueles ritos chatíssimos que reafirmavam vez após vez o status e cobriam de luxo a vida da realeza - literalmente desde o levantar até o deitar - exalavam o fétido odor do Ancien Régime... Tão insuportável para nós, contemporâneos! Me pareceu também, por outro lado, uma certa tentativa de defender a nobreza - jamais seu modus vivendi - das acusações posteriores tidas como certezas inabaláveis pela historiografia oficial ou acadêmica (talvez por isso tenha sido vaiado na estréia em Paris).

De que modo ela o fez? Dando ênfase diferenciada aos costumes de uma vida cortesã, rodeada de privilégios e fofocas sem-fim. Sua maior contribuição, a meu ver, foi ter conseguido fugir do maniqueísmo reinante nos filmes, especialmente os biográficos. Assim, retratando uma nobreza míope (não necessariamente má) e envolta numa teia inescapável de infinitos e repetitivos ritos que circundavam as honrarias reais, pouco espaço e interesse restavam para outras coisas. Esse cotidiano completamente alheio às necessidades de um povo que carecia de pão, certamente levaria à alguma reação. Popular, no caso; porque a dor do outro -do miserável - não costuma nos atingir como deveria. Me lembrei muito da situação do campesinato francês retratada no pano de fundo de Les Misérables, de Victor Hugo.

Por esse mesmíssimo motivo Roma - ardilosamente - tratou de prover o 'povão' através da política do panem et circenses (pão e circo). Um princípio de governabilidade bem bolado, mas nem sempre levado em conta pelos donos do poder.

E pra completar Sofia usou uma trilha sonora contemporânea muito interessante!

PRÊMIOS E INDICAÇÕES

Academy Awards:

  • Vencedor: Melhor Guarda-Roupa (Milena Canonero)

BAFTA Film Awards:

  • Nomeado: Melhor Guarda-Fatos (Milena Canonero)
  • Nomeado: Melhor maquilhagem e cabelo (Jean-Luc Russier e Desiree Corridoni)
  • Nomeado: Melhor design de produção (K.K. Barrett e Véronique Melery)

Broadcast Film Critics Association Awards:

  • Nomeado: Melhor banda sonora

Festival Internacional de Cannes:

  • Vencedor: Prémio de Cinema do Sistema Educacional Francês
  • Nomeado: Palma de Ouro

Satellite Awards:

  • Nomeado: Melhor Guarda-roupa (Milena Canonero)
  • Nomeado: Melhor direcção de arte e design de produção (K.K. Barrett)
FONTE: WIKIPEDIA

Talvez pudesse ter tido um roteiro melhor estruturado e menos longo, mas certamente teve uma boa produção. Ainda está na dúvida? Assista e tire suas próprias conclusões.

P.S.: Uma única coisa realmente me incomodou nesse filme, em se tratando de Kirsten Dunst: a absurda apatia sexual do Luís XVI... Argh, isso foi duro de agüentar...!

2 comentários:

mauro F disse...

Quem me falou desse filme, elogiou o figurino (que é uma categoria muito desvalorizada por aqui). E eu sei que é o ponto alto do filme. Mas concordo com a sua visão... é a belezoca do cinema! Não precisamos retratar a realidade.. essa está tão distante e tão próxima dos nossos olhos! E é isso que a torna inatingível...
tudo pode soar parcial.
Gosto do cinema do "belo", aprecio o dom que os japoneses e chineses têm. A câmera parada, imagens que se tornam quadros, fotografias... e a sensação do impossível, pessoas voando, tornando fácil tudo aquilo que nos é tããããão difícil.
Estou escrevendo muito mal. Hoje foi um dia complicado...
e nem sei quando vou postar no Rawl de novo.
Grande abraço pra ti.
Amo muito tudo isso.

mauro F disse...

Como ainda não assisti, não posso comentar a trilha sonora.
Mas tb ouvi falar suuuuper bem!