quinta-feira, 12 de julho de 2007

De volta a Trento!


Papa Ratzinger [a foto ao lado foi só pra sacanear... jajaja] mostra mais uma vez a que veio. Em seu discurso vem agora informar aos viventes 'desamparados pelos tentáculos' da Igreja romana que já se encontram em franca condenação à danação eterna, porque "a religião católica é a única, verdadeira".

Com tal pretensão 'comemoramos' um retrocesso de quase 500 anos na história não muito elogiosa dessa instituição chamada católica apostólica romana. Ironicamente, a humildade é um valor exaltado pelos mesmos que ora 'pregam' a exclusão de outros grupos cristãos. Bem, não cobraria deles coerência se não dissessem aos quatro ventos tê-la...

Deixei de lado minha admiração
pelo intelectual que o papa representa para tentar digerir uma coisa dessas. Ainda mais sabendo que ele tentou acobertar crimes de padres pedófilos nos EUA, quando ainda ocupava o cargo de cardeal no Estado do Vaticano. E pasmem com o alcance da justiça americana: chegou a ser indiciado lá por tentar interferir no curso do processo na América. Nada mais justo, porque isso configura crime também. Mas foi preterido por ser exatamente representante de Estado estrangeiro. Duro é sentir da Igreja romana uma condescendência desse porte. Genuíno espírito corporativista. Enoja!

Meus francos botões me dizem, insistem em dizer, que se o próprio Pedro [o apóstolo] viesse aqui tirar satisfações com seus supostos representantes eles cairiam das nuvens! Se viesse Martinho Lutero ["
o santo da justa rebeldia"], porém, seria um verdadeiro duelo de titãs, realmente homérico...

Há tanto a ser questionado nessa Igreja "verdadeira" que basicamente me ponho ao lado de Lutero, que não era muito humilde, reza a lenda, mas pelo menos tentou mudar o que havia de podre na tal Igreja,
tentando em vão reformá-la ao mostrar-lhes o calcanhar de Aquiles. O que fizeram? Quase o queimaram, como a tantos outros. Que piedade é essa, afinal?

A próxima medida do papa alemão será retornar ao latim como língua oficial de celebração das missas.
Genial! Já posso ouvir os grilos a coachar nas imponentes catedrais mundo afora.

P.S.: Não me admira muitas pessoas odiarem esses tipos de "cristãos". Não há como gostar de gente assim...

3 comentários:

Schirmer disse...

Mino carta descreveu uma conversa com Lutero. Ontem. (jaja)

12/07/2007 13:26

"Esforço vão"

Descobri o telefone de Martinho Lutero. Fácil, está na lista de Wittenberg. Liguei, ele atendeu, falamos. Foi uma entrevista que aqui divulgo, com absoluta exclusividade. Depois da troca de palavras convencionais, pergunta e resposta.

EU – Que acha do documento da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé, divulgado anteontem, onde se diz que Cristo “constituiu sobre a Terra uma única Igreja”, ou seja, a Católica Apostólica Romana?
LUTERO – Bem, que esperar deste meu contemporâneo? O primeiro, transparente objetivo é acabar com a mais pálida chance de ecumenismo. E isso tudo de uma penada só, por causa da interpretação de um verbo em latim.

EU – Como assim?
LUTERO – O Concílio Vaticano II, faz mais de quarenta anos, afirmou que a Igreja de Cristo “subsistit in”, subsiste naquela governada pelo sucessor de Pedro. O verbo parece não excluir que outras igrejas tenham sido abençoadas da mesma maneira. Agora a congregação vaticana quer eliminar “quaisquer dúvidas a respeito” para esclarecer que o Concílio Vaticano II, tido à época, 1963, como um avanço, de verdade não mudou coisa alguma. Em lugar de “subsistit” leia “est”.

EU – Mas o senhor...
LUTERO – (interrompe) Nada de cerimônias, por favor, trate-me de você.

EU – (lisonjeado) Muito obrigado, é uma honra. Mas você sente-se ofendido pelo documento?
LUTERO – Já ganhei a minha parada, sem que isso me tenha levado a comemorações enforicas. Queria afirmar um principio, e consegui. De uma igreja que logo ao ser reconhecida como portadora da religião do Estado se tornou um avassalador poder temporal nada espero.

EU – A sua denúncia dizia respeito, entre outras coisas, à mercantilização das indulgências.
LUTERO – Era um dos aspectos das minhas 95 teses, mas havia uma questão de fundo, que as resumia. O afastamento total da igreja das lições de Cristo. Por isso fui excomungado.

EU – E como reagiu, in illo tempore?
LUTERO – Com a consciência de que a minha excomunhão era sinal de fraqueza e de medo. É o que penso hoje em relação ao documento da Congregação. Ratzinger sabe que a civilização cristã está em xeque. Ele reage autoritariamente, é tudo que sabe fazer. Obviamente, não é por aí...

EU – O monarca pretende virar ditador?
LUTERO – Esforço vão, creio eu. Inclusive na tentativa de retorno a uma igreja medieval, aferrada ao ritual. O qual, nos dias de hoje, está a ficar cada vez mais anacrônico, de uma teatralidade grotesca.

EU – De todo modo, as indulgências não são mais vendidas.
LUTERO – Ah, meu caro, eles vendem outras coisas, quem sabe até mais valiosas.

EU – Não é, porém, que o mundo esteja a ficar cada vez mais inteligente, e menos ainda igual?
LUTERO – Sim, há razões para ficarmos mais decepcionados, e preocupados. Os cristãos, por exemplo, não se interessam em saber o que Cristo pretende de cada um. Nem por isso Ratzinger acerta no alvo. A ignorância de hoje não é mais aquela que gostaria de encontrar. Ele é incapaz de perceber que Cristo enxotou os mercadores do templo e jantou com os pecadores.
enviada por mino

Schirmer disse...

Epistolar

Papa Ratzinger mais uma vez prova o retorno de sua igreja ao Concílio de Trento. Acaba de dizer que a católica é a única verdadeira, fundada por Cristo e a ele definitivamente unida por causa do sacerdócio e da eucaristia. Entendo o raciocínio (disse e repito, o raciocínio) em relação à hóstia, que representa o pão da Última Ceia, corpo de Cristo. Não entendo a referência ao sacerdócio. Estaria aludindo ao celibato dos padres? E quem determinou que o nazareno era a favor do celibato? Que grande oportunidade seria entrevistar o pescador Pedro para saber o que de fato pregava o mestre. Infelizmente carecemos de um Evangelho segundo Pedro. Acho que cairíamos das nuvens a cada resposta, estarrecidos diante do que a Igreja fez para estabelecer-se como poder temporal, inescapavelmente terreno, ao adaptar lições de igualdade, tolerância e amor ao próximo a desígnios freqüentemente brutais. Outra entrevista que me agradaria sobremaneira fazer é com Martinho Lutero, o santo da justa rebeldia. Não se espantem se um dia desses eu conseguir fazê-la.
enviada por mino

Schirmer disse...

Hoje a BBC colocou uma reportagem a respeito dos crimes de abuso sexual:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/07/070715_igrejaeua_is.shtml