O primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, culpou ontem "agentes externos vindos de países vizinhos", referindo-se ao Paquistão, pelos ataques coordenados de quarta-feira, que deixaram pelo menos 127 mortos e mais de 300 feridos em dez lugares de Mumbai (ex-Bombaim), a capital financeira da Índia.
(...) O Paquistão negou a acusação, lamentou os ataques e ofereceu ajuda. Segundo o jornal Hindu, três terroristas - dos sete detidos - eram paquistaneses e disseram ser do grupo Lashkar-i-Taiba, com base no Paquistão. O grupo negou ter participado dos ataques.
Relatos de testemunhas indicaram que os terroristas (estima-se 25) chegaram pelo mar, em balsas de borracha, reforçando a teoria do envolvimento de estrangeiros. (...)
Rejeitando as acusações, o chanceler do Paquistão, Shah Qureshi, lembrou que o Exército está combatendo os extremistas no território paquistanês. (...)
(...) Hoje pela manhã, comandos militares lançaram uma ofensiva no centro judaico, onde, segundo um funcionário da Embaixada de Israel, pelo menos dez israelenses eram mantidos como reféns.
(...) Os atentados que tiveram início na noite de quarta-feira se concentraram na região sul de Mumbai, onde ficam as principais atrações turísticas, a maior Bolsa de Valores do país, a sede do Banco Central e os hotéis cinco-estrelas.
NYT E GUARDIAN
Um dia após os ataques que mataram 125 pessoas em Mumbai, na Índia, uma questão ainda intriga os principais especialistas em terrorismo no mundo: quem são os terroristas? O único consenso é que os atentados representam uma nova face do terror, diferente do padrão que vinham tendo os ataques realizados no país. Até então, o terrorismo indiano tinha como alvo a população local - e não turistas estrangeiros.
(...) A primeira parte do mistério é saber até que ponto os terroristas tiveram ajuda externa. Mas as autoridades dizem que o nível de organização, planejamento e coordenação não poderia ter sido atingido sem a ajuda de terroristas experientes, talvez ligados à Al-Qaeda. Mas isso não resolve o mistério sobre a identidade dos terroristas.
Segundo a rede CNN, os terroristas teriam planejado a ação por várias semanas e até mesmo se hospedado nos dois hotéis atacados. Os ataques começaram às 21h20 de quarta-feira na estação de trem de Mumbai e prosseguiram em intervalos de 15 minutos pelos outros alvos. A polícia apreendeu botes de borracha, com armas e um telefone por satélite, noa quais eles teriam chegado à cidade.
Após os ataques, um grupo autodenominado Mujahedin do Deccan reivindicou a autoria. O problema é que nenhum especialista em segurança e terrorismo conhece a organização. Deccan é o nome da região onde fica a cidade indiana de Hyderabad, no centro da Índia. Mujahedin são os guerreiros islâmicos. “Os dois nomes juntos não dizem nada. Esse grupo é uma farsa”, disse Gohel.
(...) Segundo o governo indiano, o nome sugere uma relação com o grupo Mujahedin Indiano, envolvido em ataques que já mataram 200 pessoas este ano no país. Em setembro, o Mujahedin Indiano enviou uma mensagem a jornais da Índia ameaçando lançar “ataques mortíferos” em Mumbai.
Christine Fair, do Instituto Rand, afasta qualquer relação com a Al-Qaeda. “Não tem nada a ver com eles. A Al-Qaeda não usa granadas e não faz reféns”, disse.
O uso de granadas e fuzis AK-47, segundo analistas, colocaria os terroristas de Mumbai mais próximos das guerrilhas islâmicas que atuam na Caxemira, no Afeganistão e no próprio território indiano. Com base em imagens de TV e fotos, que mostraram que os terroristas eram jovens - de 20 e poucos anos e usando camisetas e jeans -, o governo suspeita da participação de estudantes muçulmanos. “A pobreza tem empurrado esses muçulmanos indianos para o fundamentalismo”, disse Christine.
Gilles Lapouge*
(...) Algumas pistas. Os matadores pediram os passaportes de seus prisioneiros dos hotéis e separaram britânicos e americanos dos outros. Isso ocorreu em Mumbai, a cidade onde os traços da colonização britânica são mais espetaculares.
(...) O Hotel Taj Mahal, que estava em chamas na quarta-feira à noite, é um vestígio da belle époque britânica, com seu luxo, sua elegância, seus domos e seus campanários ornamentados. Sempre se espera surpreender Rudyard Kipling ou a rainha Vitória saindo dali.
(...) Esse cuidado de atacar alvos simbólicos e monumentos célebres, a multiplicidade dos ataques simultâneos, o enorme armamento dos terroristas, sua coragem insana, sua brutalidade, o desejo de fazer o maior estrago possível, tudo isso parece revelar que se trata de um grupo inspirado na Al-Qaeda. Essa ação pode ser interpretada, portanto, como um novo soluço do ódio antiocidental que gira em torno do globo desde 11 de setembro de 2001
No entanto, as paixões propriamente nacionais não podem ser excluídas. Em Gujarat, vizinho ao Estado de Maharashtra, cuja capital é Mumbai, ocorreram perseguições de muçulmanas que deixaram 2 mil mortos, em 2002.
(...) A tese de que a culpa é do Paquistão é menos crível, pois as relações entre os dois países rivais melhoraram sensivelmente depois da aprovação de algumas medidas.
(...) Zardari calcula que a Índia e o Paquistão, por mais rivais que sejam, têm um inimigo em comum: o radicalismo islâmico. Esse radicalismo, nutrido e reforçado dia após dia pelo Taleban em sua luta contra o Ocidente no Afeganistão, vizinho do Paquistão, ameaça, se não for combatido, mergulhar o Paquistão no abismo do terror. E a Índia sofreria o mesmo destino.
Folha de S.Paulo, com agências internacionais
(...) Segundo relatos dos sobreviventes, os terroristas são rapazes na faixa de 20 anos, armados com granadas e fuzis automáticos. Falavam hindi, idioma predominante na Índia, e urdu, língua falada sobretudo por muçulmanos da região.
(...) Dois supostos terroristas ligaram a canais de TV locais, exigindo falar com representantes do governo. Eles reclamavam do "tratamento injusto" dado aos muçulmanos na Índia, sobretudo na Caxemira, região de maioria islâmica disputada por Índia e Paquistão.
(...) Segundo outro seqüestrador, que disse se chamar Sahadullah, os reféns só seriam soltos quando a Índia libertasse todos os "mujahedin" (combatentes islâmicos), e os muçulmanos que vivem no país "não deveriam ser perturbados".
Por waleria
Leiam McMafia de Misha Glenny, Cia das Letras 2008 e entenderão claramente.
Existe uma ligação de gangsters de origem muçulmana em Munday, que têm forte apoio informal do serviço secreto paquistanês.
Não é uma ação terrorista propriamente dita paquistanesa. Mas são gangsters da mafia local de Munday, de origem muçulmana, treinados pelo serviço secreto paquistanês - para gerar problemas para as autoridades indianas de origen hindu, no período pré-eleitoral.
São jovens, falam hindu e idioma islamita local. São locais, máfia local. Mafia usada para um certo banditismo político como massa de manobra eleitoral na India.
São problemas locais - e interesses locais. Nada de Al-Qeda ou US ou UK, ou Israel. Isso usaram para despistar e aparecer com mais força.
Usam e abusam do pavor ocidental - e a ideologia do terrorismo de Bush Jr.
Por Betina
Tem um excelente comentário no resumo do centenário jornal The Christian Science Monitor, lá no fim: clique aqui.
É um comentário dum blogueiro do Sri Lanka vendo paralelos entre os ataques em Mumbai e o conflito reinante no Sri Lanka. Comenta q nem uma das mensagens q rolam na TV se pergunta: "o q fez com q indianos atacassem outros indianos?" Basicamente ele fala: olhem para dentro e encontrem a doença que está causando esta febre de nome terrorismo. Não façam a besteira q nós fizemos. Começa cum uma meia dúzia de gatos pingados aqui e ali, e daqui a pouco vc tem um movimento forte com ideologia e tudo.
Acho q esse blogueiro (sempre eles. Ou nós, rsrs) acertou na mosca. Se alguém puder traduzir, seria legal. No momento estou no trabalho, senão eu faria.