segunda-feira, 16 de julho de 2007

Uma questão de costume


Quer chova ou neve, desde 1978, Woody Allen lança uma película, anualmente quase sempre. Há muito tenho acompanhado seus trabalhos com a tietagem de um fã, e sem ter qualquer pretensão de especialidade.

Posso dizer apenas o óbvio: ele está hoje um tanto longe de sua "velha forma", quando actuou e dirigiu clássicos como Annie Hall (1977) e [na minha opinião o melhor de seus filmes] Manhattan (1979).

Curiosamente - e quem sabe, de propósito? - de quando em quando ele responde às críticas de sua decadência como diretor e ator com a feitura de uma brilhante e envolvente trama. Esse é precisamente o caso de Match Point (2005), onde a diva "criminosamente sexy" [palavras do diretor] Scarlett Johansson estreou.

Abro aqui um pequeno parêntese para falar dela: Ganhou o epíteto de "tentação loira" por lembrar Marilyn Monroe. Entretanto, felizmente sua beleza, reconhecida mundialmente, não figura entre seus principais atributos... O talento lhe sobressai, exalando o perfume do convencimento [prometido um post futuro]. Woody viu isso de cara, e não desgrudou mais dela. Convidou-a para fazer Scoop - O Grande Furo (2006) e uma pré-produção para 2008, chamada Woody Allen Spanish Project, já está sendo gestada. Talvez depois de Diane Keaton [outro prometido!], esta seja sua nova fixação. Quiçá para sempre.

Match Point fala da importância da sorte. Jamais nega o valor do trabalho. Mas o "ter sorte é fundamental para se ter sucesso!" aparece como um mantra a ser recitado pela personagem principal, Chris Wilton. E quando chega a hora de decidir entre ser feliz e ter sucesso, o que lhe pesará mais na balança? Paixão? Tentação? Obsessão?
Numa das cenas, Wilton é apanhado lendo o clássico de Dostoiévski, Crime e Castigo. Há semelhanças e distâncias entre ele e Raskólnikov. Talvez o invejasse...

O filme é um dos poucos passados fora dos EUA. As cenas se dão em Londres e no maravilhoso interior da Grã-Bretanha. A aristocracia britânica, é claro, se faz bem presente nele, dando visão a um misto de luxo e cultura tipicamente europeus.

É certamente o melhor filme de Woody dos últimos anos. E a quem não o assistiu ainda recomendo fortemente!

P.S.: Annie Hall [um nome próprio, diga-se], que no Brasil foi incrivelmente mal traduzida por Noivo neurótico, noiva nervosa, apenas comprova o sentido etimológico da referida palavra: uma traição só!

Trilha pra este post: O Figli Miei! - Verdi (linda ópera!)

2 comentários:

L. R. disse...

A melhor coisa de Match Point, para mim, é a parte que se refere a Crime e Castigo!

Schirmer disse...

Muito interessante seu comentário. Sobretudo porque Woody, nesse filme [como em tantos outros], quis questionar a tese de Dostoiévski no citado clássico.

Quem viu "Crimes e Pecados", do mesmo diretor, certamente teve reiterados déjàs vus.