"UM ESTRANHO ROUBO DE SEGREDOS DE GÁS E PETRÓLEO
Quando a Petrobrás, empresa estatal brasileira, anunciou recentemente que havia descoberto enormes campos de gás e petróleo nas àguas profundas da costa fluminense, pelo mundo afora muitos foram acometidos de uma certa taquicardia histérica. Se, como declarado, tudo isso for verdadeiro, trata-se simplesmente da descoberta do século! [Alguns periódicos chegaram a dizer que "Deus talvez seja mesmo brasileiro"]
Mas a empolgação talvez tenha excedido o aceitável. A polícia federal foi chamada no começo do mês para investigar um misterioso roubo de equipamentos, quatro laptops e dois discos rígidos de um conteiner. Tais equipamentos, supostamente continham os resultados de testes destinados à estatal sobre a área perto da bacia recém-descoberta, sob cuja responsabilidade, durante o trajeto, recaía sobre a empresa americana contratada para tal fim, a Halliburton. O roubo ocorreu na semana que antecedeu 18 de janeiro deste ano, durante o trajeto em que o conteiner estava sendo transportado de navio do porto de Santos para Macaé, no Rio de Janeiro.
Nem a Halliburton nem a Petrobrás falaram muito sobre o assunto. Talvez essa atitude revele o embaraço de ambas. Transportar equipamentos que contém informações comercialmente valiosas e sigilosas do mesmo modo que se transporta soja parece uma maneira bastante peculiar de tratar os interesses de uma companhia do porte e alcance da Petrobrás. Mais capicioso ainda é o fato de que os ladrões pareciam saber exatamente onde se encontrava o que procuravam. O presidente Lula chegou a dizer que o incidente chegava às raias da espionagem industrial.
Em caso afirmativo, quem poderia lucrar? Talvez investidores interessados em comprar ou em diminuir os lucros da estatal brasileira ou até mesmo uma empresa petrolífera rival. Até o momento não é possível esclarecer com exatidão o que de fato há embaixo da crosta salífera sita nas àguas profundas do mar do estado do Rio. Talvez esconda lá embaixo entre 70 e 100 bilhões de barris de petróleo e muito gás. Ou talvez nada.
A costa do desenvolvimento dos campos permanece desconhecida e a tecnologia requerida para extrair o prometido ouro negro não ainda não foi provada possível. Qualquer um capaz de acertar apostas com base em informações sísmicas privilegiadas de um container de segredos industriais deveria ser parabenizado. Mas uma companhia pleiteando o direito de explorar em áreas próximas daquela que pode futuramente ser considerada a descoberta petrolífera do século certamente achará o conteúdo desse conteiner premiado muito útil.
Ou, é claro, o ladrão pode ter sido apenas um azarão despretensioso. Não raro é dada a falta de coisas variadas nos containers que se aventuram pelo porto de Santos. O maior porto brasileiro é mal gerenciado, congestionado e corrupto. Entretanto se os ladrões realmente não faziam idéia do que haviam roubado, ao final do mês de janeiro, eles já o sabem bem."
Artigo intitulado "Whodunnit?", retirado da The Economist e traduzido por mim livremente. Datado de 21 de fevereiro de 2008.
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