Revista comenta 'loucura do asilo' no caso do italiano Cesare Battisti.
- O Brasil está sendo complacente, sem uma razão convincente, com um assassino condenado pela Justiça, diz a revista britânica Economist na edição que chegou às bancas nesta sexta-feira. Em um artigo que leva o título "A loucura do asilo", a revista se refere ao caso do italiano Cesare Battisti, que recebeu asilo no Brasil, causando um mal-estar diplomático com a Itália, que quer sua extradição. A revista abre o texto dizendo que o Rio de Janeiro, "com sua gigantesca estátua de Cristo oferecendo redenção sem limites, é um lugar atraente para se viver como fugitivo da Justiça". "Claude Rains elegantemente se escondeu ali em um dos melhores filmes de Hitchcock (Interlúdio, de 1946). Ronald Biggs, depois de roubar um trem em 1963, trocou uma prisão britânica pela praia de Copacabana - causando mais inveja do que difamação". Battisti "se juntou a esse grupo, depois que de receber status de refugiado político do Brasil", diz a reportagem. Para a Economist, pouca gente na Itália tem dúvidas de que o julgamento de Battisti, ex-militante de esquerda condenado pelo assassinato de dois policiais nos anos 70 e pelo seu envolvimento na morte de um açougueiro e de um joalheiro, foi justo. Enquanto ele esteve exilado na França, diz a Economist, os governos francês e italiano discutiram o caso, mas "o governo da Itália esperava que o Brasil fosse mais prestativo". "Mas seus protestos foram recebidos com descaso pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do tipo reservado para ocasiões em que ele pensa que um país mais desenvolvido está tentando dizer ao Brasil o que fazer." Para a Economist, as razões do Brasil para proteger Battisti não são convincentes. "O ministro da Justiça, Tarso Genro, se referiu à tradição do país de receber exilados políticos, variando de Alfredo Stroesner, um ex-ditador particularmente odioso (do Paraguai), a Olivério Medina, um ex-guerrilheiro (da Colômbia). Agora que a democracia é a norma nas Américas, esta tradição é anacrônica", diz a revista. "Genro também parece acreditar que Battisti foi condenado por crimes políticos, e não por assassinato." Segundo a Economist, dois sentimentos parecem estar por trás da decisão de Tarso Genro. Um seria "a relutância do Brasil em examinar seu próprio passado - toda vez que surge a questão de se investigar o regime militar, ela é rapidamente posta de lado, ao contrário do que ocorreu no Chile e na Argentina". O outro seria "a solidariedade, encontrada entre alguns membros do PT que eram militantes da extrema esquerda nos anos 70". "Na Itália, que perdeu um ex-primeiro-ministro para as Brigadas Vermelhas e teve um assessor do governo assassinado em 2002 por seus imitadores, as atitudes são muito menos indulgentes", conclui a reportagem.
E outra do Estadão
O governo da Itália entrou nesta sexta-feira (23) com uma petição no Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando o direito de se manifestar no processo em que a Corte decidirá se liberta o ex-ativista italiano Cesare Battisti. Na última terça (20), o advogado do país no Brasil, Nabor Bulhões, já havia antecipado que entraria com o pedido no Supremo.
No mesmo dia, o embaixador da Itália no Brasil, Michele Valensise, se reuniu com o presidente do STF, Gilmar Mendes, e pediu que o Supremo ouça primeiro a Itália antes de decidir se vai libertar Battisti e, ainda, se vai arquivar o pedido de extradição.
No encontro, o embaixador manifestou a Mendes a “perplexidade” do governo da Itália sobre a decisão do ministro da Justiça, Tarso Genro, que, no último dia 13 concedeu refúgio político a Battisti. O ex-ativista está preso no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, desde março de 2007.
O Supremo ainda aguarda um parecer da Procuradoria-Geral da República sobre o assunto. Com o documento, a Corte vai analisar o pedido de revogação da prisão preventiva da Battisti e decidir se suspende ou não o processo que pede a extradição.
É possível que o caso seja resolvido somente a partir do dia 2 de fevereiro, quando começa o ano judiciário. A concessão do refúgio a Battisti gerou um incidente diplomático entre Brasil e Itália, que recebeu a notícia com indignação, uma vez que Battisti era tido como um dos chefes da organização de extrema esquerda ''Proletários Armados pelo Comunismo."
Ele foi condenado à prisão perpétua em seu país, em 1993, por envolvimento em quatro assassinatos cometidos entre 1978 e 1979. Ele sempre negou os crimes.
Carta
Na quinta-feira (22), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou uma carta de resposta ao presidente da Itália, Giorgio Napolitano, defendendo o refúgio político concedido pelo governo brasileiro ao ex-ativista Cesare Battisti.
Também em carta, no último sábado (17), o presidente italiano havia contestado a decisão do governo brasileiro e pediu a Lula a revisão da decisão. Contudo, a divulgação antecipada do conteúdo da carta do italiano para a imprensa teria irritado o presidente brasileiro, que considerou a atitude "deselegante".
"Fugitives from justice in Brazil
The madness of asylum
Jan 22nd 2009 SÃO PAULOFrom The Economist print edition
Why this indulgence for a convicted killer?
APItalians don’t see Battisti’s joke
WITH its extensive opportunities for committing fresh indiscretions and its giant statue of Christ extending limitless redemption, Rio de Janeiro is an attractive place in which to live as a fugitive from justice. Claude Rains elegantly hid out there in one of Alfred Hitchcock’s best films. Ronald Biggs, having robbed a mail train in 1963, swapped a British prison for Copacabana beach—and was more envied than vilified as a result. Now Cesare Battisti, an Italian thriller-writer who was once a member of a group called Armed Proletarians for Communism, has joined the list after Brazil granted him refugee status.
Before he came to Rio, Mr Battisti enjoyed a comfortable exile in France. Italy and France have long argued, in the way only neighbours can, about the number of once-violent Italian activists who have settled in Paris. Last year the French government refused to extradite Marina Petrella, a former Red Brigades terrorist (Carla Bruni, the president’s wife, went to Mrs Petrella’s hospital bed to give her the good news). Italy’s government had hoped Brazil would be more helpful. But its protests have been met with a snort from President Luiz Inácio Lula da Silva, of the sort reserved for occasions when he thinks a more developed country is telling Brazil what to do.
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Mr Battisti was convicted in absentia of killing two policemen in Italy in the late 1970s. He was also found guilty of taking part in the murder of a butcher, and of helping to plan that of a jeweller (shot in front of his 14-year-old son). Mr Battisti denies these charges, but there is little doubt in Italy that his trial was fair.
Brazil’s reasons for protecting Mr Battisti are unconvincing. The justice minister, Tarso Genro, referred to his country’s tradition of harbouring political exiles, ranging from Alfredo Stroessner, a particularly nasty ex-dictator (of Paraguay), to Olivério Medina, an ex-guerrilla (in Colombia). Now that democracy is the norm in the Americas, that tradition is anachronistic. Mr Genro also seems to think that Mr Battisti was convicted of political crimes, rather than plain murder.
Two sentiments underlie Mr Genro’s reticence. One is Brazil’s reluctance to examine its own past. Whenever the question of an inquiry into the military government of 1964-85 arises, it is quickly squashed (unlike similar demands in Argentina or Chile). The second sentiment, that of solidarity, is to be found among some members of Lula’s party who were far-left militants in the 1970s. In Italy, which lost a former prime minister to the Red Brigades and had a government adviser murdered as recently as 2002 by its imitators, attitudes are much less indulgent".
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