sexta-feira, 29 de junho de 2007

Homenagem póstuma a um poeta

Uma Litania ante o Sagrado Coração

Concebida em Paray-le-Maunial, à época do acidente fatal
de Anecy Rocha


Bruno Tolentino

Senhor, Senhor, o Teu anjo terrível
é sempre assim? Não tens um refratário
à hora do massacre — um mais sensível

que atrasasse o relógio, o calendário?
Ao que parece a todos tanto faz
por quem o sino dói no campanário.

Começa a amanhecer e uma vez mais
rebelo-me, mas sei que a minha vida
não tem como ou porque voltar atrás.

Aceito que a mais dura despedida
é bem mais que metáfora do nada
a que se inclina no chão; que uma ferida

e a papoula sangrenta da alvorada
pertencem ao mundo sobrenatural
tanto quanto uma lágrima enxugada

à beira de um caixão. Mas afinal,
Senhor, amas ou não a humanidade?
Não fui ao escandaloso funeral

e imaginá-la em Tua eternidade
dói demais! Vou passar mais este teste,
sim, mas protesto contra a insanidade

com que arrancas a muque o que nos deste!
Tu sabes que a soberba da família
era maior que a dela e eu tinha a peste —

pai e mãe apartavam-me da filha
e o irmãozão nem... E hoje, coitados,
como hão de estar? Aqui é a maravilha,

as genuflexões.... Os potentados
e os humildes, a nata da esperança,
todos chegam por cá meio esfolados,

sangrando como a luz. Não só da França,
toda a Europa rasteja até aqui
esfolando os joelhos, não se cansa

de ensangüentar-se até chegar a Ti,
e ao menos a um pixote do Além Tejo
restituíste a vista: eu quando o vi

solucei — mas que o cego e o paraplégico
saiam aos pinotes, que o Teu coração
se escancare e esparrame um privilégio

aqui e outro acolá na multidão,
só me faz perguntar: E ela? E ela...?
Não consigo entender que a um aleijão

concedas tanto enquanto a uma camélia
Tu deixas despencar.... Porque, Senhor?
Olho tudo do vão de uma janela,

mas vejo a porta de um elevador
escancarar-se sobre um outro vão,
um vão sem chão... E a seja lá quem for

aqui absurdamente dás a mão!
Me pões trêmulo, gago, estupefato,
pasmo, Senhor — mas consolado não.

A mesma mão que fez gato e sapato
da minha doce Musa, cura e guia,
cancela as entrelinhas do contrato,

Dominus dixit... Mas quem merecia
mais do que uma açucena matinal
um manso desfolhar-se ao fim do dia,

quem mais do que uma flor, Senhor? Igual
nunca se viu nem mesmo entre os crisântemos,
tinha direito a um fim mais natural,

à morte numa cama, em casa ao menos...
Mas não — tinha que ser total o escândalo!
Por que, se nem nos circos mais extremos

Teus mártires andaram despencando
sobre os leões, se nem o lixo cai
de oito andares aos trancos, Santo Vândalo?!

Não vim denunciar o Filho ao Pai
ou o Pai ao Filho, não vim dar razão
aos que recusam e usam cada ai

contra a humildade; vim porque a Paixão
me chamou pelo nome a a alma obedece
e aceita suar sangue — como não?

Mas não sei mais unir o rogo à prece
do que a elegia ao hino de louvor,
não seu amar-Te assim... Caso soubesse

teria que ficar aqui, Senhor,
aqui, arrebentando-me os joelhos,
esfolando-me todo ante um amor

que vai tornando sempre mais vermelhos,
mais duros os degraus do Teu altar.
Tu, que tudo consertas, dos artelhos

que desentortas e repões a andar
até às pupilas mortas de um garoto,
do cachoupinho que me fez chorar;

Tu, que a este lhe dás a flor no broto
e àquele o lírio pútrido do pus;
Tu, que passas por um de quatro e a um outro

pegas no colo e entregas a Jesus;
Tu que fazes jorrar da rocha fria;
Tu que metaforizas Tua luz

ao ponto de fazer de uma agonia
um puro horror ou a morna mansuetude —
que hás de fazer, Senhor, comigo um dia?

Quando eu agonizar, boiar no açude
das lágrimas sem fundo... Quando a fonte
cessar de soluçar e uma altitude

imerecida me enxugar a fronte...
Como há de ser, Senhor? Oxalá queiras
que a mim me embale a barca de Caronte,

como o fazia a velha Cantareira,
o azul da travessia... A Irrecorrível
arrasta a cada um de uma maneira

e a quem quer que se abeire ao invisível
recordas a promessa: aquele a escuta
e este a recusa porque a dor é horrível,

mas, se a todos a última permuta
terá sempre o sabor da anulação,
o travo lacrimoso da cicuta,

a ela Tu negaste o próprio chão,
deixaste-a abrir a porta sem querer!
Nunca falou na morte, e com razão,

intuía, quem sabe, o que ia ver...
Sentença Tua? Em nome da promessa
não há negar Teu duro amanhecer —

mas quando arrancas mais uma cabeça
como saber que és Tu, que não mentia
O que ressuscitou? Talvez na pressa,

no pânico de Pedro, eu negue um dia
e trate de escapar, mas hoje não;
hoje sofro com fé e, sem poesia,

metrifico uma dor sem solução,
mas não vim negar nada! Faz efeito
essa dor: faz sangrar, mas faz questão

de defender-me como um parapeito
contra a queda e a revolta... Um Botticelli
despedaçou-se todo, mas que jeito,

se por Lear enforcam uma Cordélia
e encarceram a Ariel por Calibã...?
Alvorece, a manhã beata velha

enfia agulhas no Teu céu de lã,
antenas às Tuas cenas de TV,
e eu penso, ela morreu... Hoje, amanhã,

enquanto Te aprouver e até que dê
a palma ao prego e o último verso à traça,
vai doer — mas Amém! Não há porque

amar a morte, mas que venha a Taça,
aceito suar sangue até o final,
como não... Tudo dói, menos a graça,

mata, Senhor, que a morte não faz mal!

(Retirado do site \"Plataforma para a Poesia\", em http://www.plataforma.paraapoesia.nom.br/_brunotdivino.htm)

domingo, 24 de junho de 2007

Depois de dois dias sem notícias no Blog da Ocupação da USP...

"Muita coisa aconteceu.

Na assembléia de quinta-feira foi apresentada e aceita uma carta redigida por alguns professores que foi aceita pela reitoria.

confira a carta termo de compromisso

Claro que ficou condicionada a aceitação pelo SINTUSP de outro documento que também foi aceito pelos funcionários.

No dia da desocupação fizemos uma verdadeira faxina, LIMPAMOS A IMPRENSA VENDIDA DA NOSSA SOLA, foi dificil mas conseguimos, na saída, alguns repórteres tentaram forçar a entrada na ocupação e foram recebidos com jatos de água. e sabão Saímos unidos e com cabeça erguida, vitoriosos! (em parte)

Depois de 51 dias de ocupação do bloco K e L do CRUSP (vulga sede atual da reitoria), agora estamos do lado de fora. Mas a luta não terminou, apenas começa, e não é só nossa. Continua dentro das salas de aula da nossa USP e vão além...

O movimento estudantil mudou, e luta, em conjunto. O movimento estudantil não é mais estudantil: é popular, é operário, é humorístico, é intelectual... enfim, é de todos. Com nova cara e muito gás neste sábado as coisas não voltaram ao normal, estão no seu mais puro processo de mudança. Cabe a todos participar desta mudança para transformarmos o conhecimento em algo acessivel a todos.

A LUTA CONTINUA...

... E HOJE AINDA VAI SER MAIOR

* porque o amanhã já é hoje!"

USP: um movimento vitorioso - Por Emir Sader (na Carta Maior)


A greve e invasão da Reitoria da USP chega a seu final com vitória dos estudantes, funcionários e professores mobilizados pelos interesses públicos da universidade. Fazia tempo que um movimento dessa ordem não conseguia tanta adesão – das três categorias -, tanta repercussão política, tanta simpatia da população e, como resultado, uma vitória tão clara.

Seus participantes diretos estão de parabéns, deram uma lição de mobilização popular, de espírito de defesa da universidade pública, de criatividade de métodos de ação e de capacidade de negociação política – intermediados pela excelente comissão de professores que serviram como facilitadores. A USP, seus professores, estudantes, funcionários, tem que sair muito contentes e incentivados a seguir na organização e na luta pelo fortalecimento do caráter público da USP.

Grande parte das reivindicações internas à USP foram conseguidas, foi freado o projeto do governador de São Paulo para violar mais ainda a autonomia universitária, foi impedida a intervenção militar preparada pelo governo tucano no campus da universidade, foi chamada a atenção sobre a situação da USP e ficou claro que há força entre os estudantes, professores e funcionários, para defender os interesses da universidade. O que não é pouco em tempos de grandes desmobilização – em particular da juventude -, de ataques sistemáticos às universidades públicas – veja a violenta ação da polícia em Araraquara -, de ideologia da privatização do ensino, de mídia que desqualifica tudo o que é público, de desvalorização das mobilizações e das lutas de massa diretas.

O ódio concentrado da direita e de seus porta-vozes, a ação totalitária da mídia contra a mobilização servem para confirmar como ela tocou em um ponto sensível do neoliberalismo – a autonomia das universidades públicas – e como incomoda ao coro uniforme dos papagaios bushistas na imprensa oligárquica. Saem derrotados, uma vez mais.

É assim que se combate ao neoliberalismo. Com um Congresso como o do MST, em Brasilia, com 18 mil participantes fazendo um balanço sério e profundo das lutas pela reforma agrária e elaborando novo plano político e de massas para dar seguimento a suas lutas –que são as de todo o Brasil – e com mobilizações como a de 50 dias na USP. A ação desinformadora da mídia oligopólica, o enfoque redutivo nos escândalos no Congresso, a desqualificação de tudo o que não seja neoliberal – saem derrotados dessas mobilizações. Querem demonstrar que as lutas não valem a pena, que estão derrotados de antemão, que não há força contra o poder do dinheiro e o do monopólio da palavra que pretendem exercer.

Quando as lutas unificam, fortalecem a confiança em todos de que governos prepotentes como o de São Paulo podem ser derrotados, que as mobilizações populares previsam ser revigoradas, com uma nova plataforma anti-neoliberal, que articule reivindicações dos mais amplos setores sociais, que concentre seus esforços na ruptura do modelo predominante e proponha não apenas objetivos, mas meios pelos quais chegar até eles.

O pós-neoliberalismo terá no fortalecimento da esfera pública um eixo fundamental de reorganização do Estado e de sua relação com a sociedade no seu conjunto. Nessa direção, a vitoriosa luta dos estudantes, funcionários e professores da USP pode ser um passo na construção da força social e política do movimento popular brasileiro.

Porões humanos - citação

"Como toda gente, só disponho de três meios para avaliar a existência humana: o estudo de nós próprios, o mais difícil e o mais perigoso, mas também o mais fecundo dos métodos; a observação dos homens, que na maior parte dos casos fazem tudo para nos esconder os seus segredos ou de nos convencer que os têm; os livros, com os erros particulares de perspectiva que nascem entre as suas linhas."

CAPOTES

Fuçando blogs alheios - aliás, lição de casa bem feita, Maurawl - descobri uma resenha crítica lusitana muito interessante. Por esse motivo decidi transcrevê-la abaixo. Mas não sem antes deixar a minha impressão sobre o mesmo filme.

Antecedentes: saíram dois filmes sobre a vida de Truman Capote. Um, da foto acima. É bem verdade e reconhecidamente sabido que a Academia (em L.A.) não escondeu (nem estou sugerindo que deveria) sua total preferência pela película e interpretação de [Philip Seymour] Hoffman em Capote. Realmente, me parece difícil a façanha de superá-lo, sobretudo interpretando a mesma personagem... Mas quero agora assistir ao outro, do qual só não ignoro a existência até o presente momento. Num futuro próximo, espero que bem próximo, pretendo tecer uma análise sobre ambos. Uma coisa pra mim porém, é líquida e certa: ver esse fabuloso filme me deu uma vontade louca de lê-lo. Talvez comece logo com o 'fantasma' In Cold Blood.

Capote - ou os dilemas do criador sobre a "criatura" - Por Adriano


Filme muito bem construído. Todo ele feito de uma tranquila intranquilidade. Aparentemente “suave” na forma, este filme não nos dá descanso. Não nos deixa tranquilos. Não propriamente por ser um filme de suspence mas deixa-nos suspensos na “luta” entre o criador, Truman Capote, e a criatura, Perry Smith, a personagem central do livro, “In Cold Blood”. O escritor tenta acabar o livro. A esperança e o temor pelo desfecho da vida do personagem, que acaba por ser condenado com a pena de morte pelos crimes cometidos a quatro familiares de uma pacata cidade, deixam-no perplexo.

Os paradoxos sentimentos entre o criador e a criatura remontam, na nossa cultura, ao “Génesis” Bíblico - quando Deus se desilude com Adão - e de então para cá, a história do homem não será mais que a tentativa de reconciliação entre os dois.

O velho dilema entre a vida e a arte é aqui tratado a “sangue frio” pelo género literário escolhido por Capote, não ficcional, ou documental, se preferirem. Onde o escritor espera pela vida para terminar a sua não ficção.

Magistral o filme realizado por Bennett Miller. A ver mais do que uma vez, se possível.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Lamarca e as sobrevivências ditatoriais



"Lamarca - Por Mino Carta

Jornal do País não leio, revista semanal também, Jornal Nacional não assisto. Há quem me informe a respeito, a me chamar a atenção para texto ou tela escolhidos. Somente hoje li o editorial da Folha de sexta-feira passada, intitulado “O caso Lamarca”. E o editorial do Estadão de sábado, intitulado “Prêmio ao facínora desertor”. E um brevo texto da última edição de Veja, intitulado “O Bolsa-Terrorismo”.Segundo a Folha, a decisão da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça representa um prêmio à deserção, a qual, se bem interpreto, justificaria o fuzilamento. É da percepção até do mundo mineral que Lamarca não foi desertor. Se quiserem, amotinado. A quem sustenta que a pena de morte se condiz a desertores, sugiro, em dias de lazer, a visão de um filme de Stanley Kubrick, Glória Feita de Sangue. Conta uma história de deserção da Primeira Guerra Mundial. Segundo o Estado, o propósito de Lamarca desertor, terrorista, torturador e assassino, era implantar no Brasil uma ditadura mais cruel e liberticida do que a que desabara sobre nós com o golpe de 1964. O jornal chega a evocar com simpatia adversários do regime militar que “contribuíram para o processo de redemocratização” e define como “memorável” o movimento das Diretas Já. Esquece ter implorado o golpe e condenado o movimento.A Veja atinge o paroxismo. Lamarca “foi morto em combate por militares que cumpriam o dever de detê-lo”, mas o “terrorista” é agora “transubstanciado” em mártir nacional. Papa Ratzinger gostaria deste verbo, transubstanciar. Quanto à comissão de anistia, “parece movida pela ideologia de esquerda”. Em geral, os editoriais e o artiguete de Veja evidenciam o sabujismo tradicional em relação às Forças Armadas. E algo mais. A forma e o conteúdo, o tom e a letra, mostram que o tempo não passou.Não se trata de tomar o partido da ditadura ou de Lamarca. Bastaria, quem sabe, admitir que este foi resultado daquela. E que a ditadura, a ser condenada in limine por espíritos autenticamente democráticos, foi um monstruoso passo atrás na história brasileira, pelo qual pagamos até hoje. Ocorre, porém, a julgar pelas reações da chamada grande imprensa, que os chavões oligárquicos continuam alerta. Só falta convocar a Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade."

sábado, 16 de junho de 2007

Prometeu, por Goethe


Goethe escreveu um poema mui lindo sobre Prometeu.....

"Encobre o teu Céu ó Zeus
com nebuloso véu e,
semelhante ao jovem que gosta
de recolher cardos
retira-te para os altos do carvalho ereto
Mas deixa que eu desfrute a Terra,
que é minha, tanto quanto esta cabana
que habito e que não é obra tua
e também minha lareira que,
quando arde, sua labareda me doura.
Tu me invejas!

(...)

Eu honrar a ti? Por quê?
Livras-te a carga do abatido?
Enxugaste por acaso a lágrima do triste?

(...)

Por acaso imaginaste, num delírio,
que eu iria odiar a vida e retirar-me para o ermo
por alguns dos meus sonhos se haverem
frustrado?
Pois não: aqui me tens
e homens farei segundo minha própria imagem:
homens que logo serão meus iguais
que irão padecer e chorar, gozar e sofrer
e, mesmo que forem parias,
não se renderão a ti como eu fiz"

O conhecimento, simbolizado nesse mito pelo elemento fogo, traz consigo a idéia de libertação da escuridão da escuridão da ignorância (bem platônico isso, não?), ao passo que aponta para o sofrido legado de eterna busca da verdade e permanente insatisfação humana com o que se alcança dela, numa relação de profundo amor-ódio.

Pensando nisso, talvez fosse Prometeu uma exemplar imagem do mito edipiano de que Freud tanto discorreu. Ao meu ver, exatamente por isso tal mito, genialmente resignificado, se tornou sua mais famosa metáfora das relações humanas primárias.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Memórias da Cenimar



O homem do Cenimar - por Mino Carta

Memórias dos tempos idos. Estamos em 1971, dirijo a redação de Veja e Octavio Ribeiro, o Pena Branca por obra da mecha que logo acima da testa sulca-lhe o cabelo preto, recebe de um oficial do Cenimar, no Rio de Janeiro, cópias de cartas manuscritas de Carlos Lamarca à namorada Iara Iavelberg. Lamarca já morreu, fuzilado à sombra de uma das ralas árvores da caatinga, por uma matilha de perseguires comandado por um capitão, Nilton Cerqueira, hoje general. Lamarca vinha de uma fuga de centenas de quilômetros pelo sertão e os tiros o mataram deitado e sem reação. Seu único companheiro de aventura e desgraça, o Zequinha, rememorado também pelos jornais de ontem. Não me permito a análise da personagem Lamarca, incluídos aí seus rompantes e crenças. Resta o fato de que foi assassinado friamente e de que não foi terrorista na acepção correta. De todo modo, Veja publicou as cartas, 36 anos atrás, e estampou uma na capa. Eram textos exaltados, da lavra de alguém disposto inexoravelmente a mergulhar em ilusões. A Veja naquele tempo ia às bancas na segunda-feira e, ao meio-dia, três janizaros à paisana invadiram minha salinha e me carregaram para uma C-14, o veículo preferido pelo Dói-Codi. Primeiro fui conduzido até as dependências da PF do bairro de Higienópolis, onde permaneci por umas duas horas em companhia de meliantes de medíocres calibres. Depois fui transferido para o QG do II Exército, não sem antes ouvir da boca de um censor conhecido nos tempos em que dirigia o Jornal da Tarde, sussurrada a frase no meu ouvido: “Desta vez é grave”. Fiquei em uma cela forrada de aço escovado por mais um punhado de horas, até ser levado à presença de um coronel de aspecto teutônico e de sobrenome Herar. Perguntou: “O senhor sabe porque se encontra aqui?” Respondi ignorar. Disse: “A revista que o senhor dirige publicou material subversivo”. Retruquei: “Fornecido a um repórter da sucursal carioca por um colega seu do Cenimar”. Olhou-me intrigado. Insisti, e sugeri que ligasse para o próprio. Pediu cortesmente licença e retirou-se por um tempo. Voltou e admitiu: “É verdade, o senhor pode retirar-se em liberdade”. Eram nove horas da noite e fui tomar canja no restaurante do Giovanni Bruno. Até hoje me pergunto quais foram as razões do homem do Cenimar ao entregar as cartas ao Pena Branca. De quem me lembro com saudade. Foi-se há muito tempo, era figura excelente e repórter de primeira.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Condenados à esperança?

É com grande pesar que venho a vocês reportar a última de nossa mídia conservadora (e golpista).

As Organizações Globo entraram com pelo menos dois projetos de lei na Câmara dos Deputados cujo conteúdo versa sobre a possibilidade futura de não podermos mais dispor de quaisquer outras fontes de informação que não sejam nacionais.

Se forem aprovados, para o enfraquecimento de nossa já debilitada cidadania, o acesso à informação (condição básica de nossa liberdade de opinião e manifestação) estará ainda mais ameaçado. Na prática quer dizer que sites como o da BBC Brasil (cuja matriz goza de nada menos do que um elevadíssimo status internacionalmente reconhecido por seu padrão e qualidade jornalísticos) deixarão de existir em português para o Brasil, por fazer parte do que alcunharam de "empresas de capital internacional", que figuram como alvo da eventual futura lei.

Por obra do acaso(?) neste mês saíram algumas matérias que apontam para a supremacia da internet sobre a televisão (do modo como a conhecemos hoje) num futuro bem próximo. Sabe-se que a internet em breve vai sobrepujar a audiência das telenovelas e telejornais pela tendência mais interativa e democrática. Querem [a Globo] que os donos do poder continuem a mandar nesse pedaço de latifúndio comumente chamado de Brasil.

Sim. E se conseguirem vão dar margem para que uma máxima atribuída a um certo líder cubano - cujo nome não ouso pronunciar por receio da censura - se torne cada vez mais patente. Ei-la:

"Liberdade de imprensa é um eufemismo burguês!"

Se me permitem um desabafo, estou cansado de ter de carregar esse duro fardo.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Apoio Moral


O link proveniente da Carta Maior será de alguma valia na análise do movimento estudantil, mormente o uspiano, ora 'ocupante'.

E, à propósito:


BORAT apoia a Ocupação da Reitoria! GREAT SUCCESS!!