segunda-feira, 30 de julho de 2007

Bergman morreu?


Hoje morreu um cineasta aquilatado no mundo. Deu ao cinema o status de sétima arte. Seu estilo, inconfundível, antinaturalista?, veio nos tirar os pés do chão, como todo bom filme. Assisti ainda criança, embasbacado o Sétimo Selo. Jogar com a morte, enganá-la se tornou para mim, um infante, a luta da vida.

Sim, o mundo para muitos anoitece mais feliz e menos triste. Agora não teremos de pensar na morte, nas tristezas que cercam a vida humana e suas duras escolhas. Alívio talvez.

Ingmar Bergman se foi, e com ele seu sofrimento.

Aliás, ele não morreu não! Perdeu uma partida de xadrez... Mais uma entre tantas.

domingo, 29 de julho de 2007

La Bossa Nostra


Incentivado pela iniciativa dos comentários do Mauro, logo abaixo, sobre o Laurindo [Almeida], decidi por uma boa provocação:

Há a tese dogmática e muito difundida de que o movimento intitulado bossa-nova foi uma ruptura na música brasileira e até o mito de que teve uma grande produção musical.

Em que se baseia a pretensa iconoclastia desse movimento? Qual é sua história?

Confesso que não sou fã de Bossa-Nova, mas vale a discussão nesse blog que se pretende tão versátil e plural.

PS: Meu amado Chet Baker foi, por exemplo uma influência decisiva para João Gilberto no modo de cantar!

Domingo musical...

Vejam o fantástico violonista Laurindo Almeida em uma grande performance!

Mentiras que contamos


Um menino, na juventude de seus 7 anos sem titubear pergunta ao pai:

- Pai, por que o pinto(sic) fica duro?
- É porque ele fica assustado, meu filho! - responde meio sem chão o pai.

Tempos depois, passeando pelas ruas da cidade, o filho exclama:
- Pai, QUE MULHER ASSUSTADORA!!


PS: A moral da história fica por sua conta.

sábado, 28 de julho de 2007

Iman Maleki, pintor iraniano

Clique aqui para ir ao site oficial desse grande pintor realista.

Querer ser melhor já é sê-lo!


Ontem saí com minha grande e fabulosa amiga, a Cybele. Há tempo que não me sentia tão compreendido por uma pessoa. Para isso acontecer é necessário tempo, sensibilidade e uma vontade tremendamente difícil de ouvir o outro [qualidade rara nesses dias esquizofrênicos, vale dizer]. Ela conseguiu isso com maestria. Nem pareceu fazer esforço. Rimos muito. De nós, da vida, do mundo. Seguramos as lágrimas também, creio falar por ela.

A sensação é a de sempre estar atrás, em débito, com ela, pelo prazer da companhia e das palavras compartilhadas. Hoje não encontro em muitas de minhas amizades tamanha disposição [clique aqui e saiba mais]. Talvez por isso tenham estacionado. É triste às vezes pensar nas verdades da vida. Acho que amizades reais só se desenvolvem de verdade quando longe da coletividade, dos grupos. É essencial também ter momentos de solidão para conseguir enxergar muitas coisas.

Quem sabe não é a amizade a celebração do encontro de nossos momentos de solidão diários?
Como Vinícius [de Moraes] colocaria, amigo a gente não faz, encontra!

Os dias dedicados à solidão de nossos pensamentos são forte alimento para encontros memoráveis, porque entre outras coisas, eles sempre acabam nos levando mais pra cima... E essa é uma feliz realidade com a Cybele, uma amiga que por um capricho do destino encontrei.

P.S: A frase que serviu de título ao post foi ela quem me ensinou.

Venha enforcar-se também!


Escreva aqui tudo o que você quiser, com toda liberdade que talvez algum dia nunca lhe tenham deixado ter. Escreva sobre o Brasil, sobre o mundo, as pessoas, as coisas, tudo. Pouco importa se os outros amarão ou odiarão suas palavras, desde que respeitem seu direito de escrevê-las.
Mas apenas uma vez por dia!

Prenúncios de uma nova era?

Clique aqui e me responda: teria Cassandra lhe soprado algo ao pé do ouvido? Esboçado preocupação?? Afinal, teríamos passado da fase aquariana?

Ou simplesmente vemos mais alguém que se enforca na corda da liberdade?

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Skysurf


Hoje lendo notícias me deparei com uma análise curta mas destruidora do valor da manifestação promovida pelos estudantes que ocuparam as universidades paulistas, em especial a da USP como cabeça e difusora, meses atrás:

"Os estudantes da USP, assim como os da Unicamp, invadiram as respectivas reitorias. A agenda de reivindicações era mero álibi. Não havia uma proposta clara, mas um descontentamento difuso."

É verdade a afirmação e admito: caí das nuvens! Mas não creio que foi totalmente em vão, porque o movimento teve ao menos o mérito de sacudir um pouco a sociedade e governo paulistas, e, porque não dizer, brasileiro. Por mais que lhe neguem importância, ele ressuscitou o que há muito, muito tempo se considerava cadáveres putrefatos.

Agora pelo menos agora sabemos que estamos vivos... Bem vivos.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

'Chimarroníssimo'

Pedi a um amigo que foi ao Rio Grande para me trazer um dos marcantes símbolos da cultura regional. Acabou comprando também um para si, soube. Acho que me invejou, dizem-me alguns risonhos botões.

Descobri que, além de popular, há uma maneira certa de executar o processo. Nada complicado demais, apenas alguns poucos mas fundamentais cuidados, como o de não deixar a água ferver e descartar a primeira e amaríssima leva de chá-mate. Com constância e prática, creio, não há o que não se aprenda. Desde então estou a 'chimarronear', minha nova mania de inverno... Waaal!

(...)

Li anos atrás, na orelha de um livro de [Honoré de] Balzac, que [Friedrich] Engels dizia maravilhas sobre o autor, afirmando que havia aprendido muito mais sobre a sociedade francesa do século XVIII nos livros de Balzac do que aprendeu nos livros de história. Realmente. Até o mundo mineral reconhece-lhe a inegável competência e o merecido renome.

Nessa mesma chave analógica, digo o mesmo de Érico Veríssimo. O inesquecível dueto Ana Terra e Um Certo Capitão Rodrigo me ensinou imensamente, infinitamente mais do que qualquer livro de história sobre a cultura, economia e política da sociedade sul rio-grandense. Mesmo aqueles que abordaram as guerras [contra o Paraguai] e as revoltas [Farroupilha ou dos Farrapos] pelas quais passou o Rio Grande com a devida contextualização situacional e cultural, típicas da região, não raro ignoradas pelo resto de nosso país continental.

Diversão pura no trivial de quarta

Rir um pouco faz bem à saúde! Vejam.

Democracia: entre o capitalismo e o comunismo?

Anos atrás, quando cursava Direito numa renomada faculdade desta capital, perguntei ao meu professor da cadeira de Filosofia se o regime democrático poderia coexistir com o sistema comunista. Ele elogiou minha pergunta e me respondeu com um sonoro não.

Desde então fiquei a pensar: será a democracia um mero discurso burguês para se afirmar frente à alternativa [alternativa?] socialista? Ou simplesmente um ideal desejável mas inalcançável para ambos [ou qualquer outro sistema]? Não saberia responder.

De uma coisa, porém, tenho certeza: democracia se alcança dia-a-dia, na prática, isto é, é mister tentar garantir-lhe a vitória a cada nova batalha, que é diária. Senão vira discurso, caindo no vazio onde jazem todas as outras ideologias.

É necessário controlar o fascistinha que habita dentro de nós [a figura acima é ilustrativa dele]. Tanto mais se ocupamos cargos em que "representamos o povo".

Coisas de mãe

Hoje minha mãe me surpreendeu. Me comprou uma revista de gênero inusitado: Men's Health! Eu a classificaria como uma revistinha "pra macho pegador", destinada ao público burguês e bon vivan desse país. Depois das risadas, de ambas as partes, a justificativa não tardou. É pra eu "aprender a talhar" o abdome. Bem, quem me conhece sabe que não sofro de obesidade. E apesar da barriguinha incipiente, muito ao contrário.

Minha primeira reação? Fui sem demora para a seção "pegação" conferir as "dicas" dos 'mestres'... [gargalhadas] Recomendo fortemente! É melhor que programa de humor. E, sem dúvida, melhor que o do Jô.

Mãe quer ver seus filhos bem, sempre! Acho que é uma premissa materna. Minha mãe é uma legítima mama iídiche, não tive mais dúvida.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Dois pesos, uma medida


Hoje estava a reparar nas contradições humanas e petrificado constatei que facilmente nos dispomos a perdoar os grandes pecados e falhas da humanidade mundo afora, mas somos curiosamente impiedosos com as pequenas, ao nosso redor. E quando não, em se tratando de Brasil especificamente, somos [quase] todos responsáveis, porque "continuamos a votar como votamos e a reclamar mais dos que são rigorosos do que daqueles que são complacentes". É preciso mudar esse triste quadro antes de sair por aí declarando nosso amor à pátria, fingindo para nós mesmos que não estamos onde ainda permanecemos. É preciso coragem! Isso nos falta.

Nota final sobre a "crise" aérea

Não vou contribuir para essa esquizofrenia informativa sobre o caso acima. Cansei.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Viva a catástrofe! Os bons tempos voltaram - por Luis Nassif

Sempre que há uma catástrofe nacional, irrompe uma euforia de cabeça para baixo. É como se a opinião pública dissesse: "Eu não avisei? Bem que eu falei, não adianta tentar que sempre dá tudo errado...".

Há um grande amor brasileiro pelo fracasso. Quando ele acontece, é um alívio. O fracasso é bom porque nos tira a ansiedade da luta. Já perdemos, para que lutar? O avião explodindo nos dá uma sensação de realidade. Parece o Brasil indo a pique -o grande desejo oculto da sociedade alijada dos podres poderes políticos, que giram sozinhos como parafusos espanados.

Não é uma ameaça de CPI, não é um perigo de crash da Bolsa. É morte, gás e fogo. E nossa vida fica mais real e podemos, então, aliviados, botar a culpa em alguém.

Chovem cartas de leitores nos jornais. Todas exultam de indignação moral, todas denotam incompreensão com o programa do governo de reformar o sistema, programa muito "macro", mal explicado, "muito cabeça" para a população.

Nada como um desastre ou escândalo para acalmar a platéia. E a oposição, aliada à oligarquia, usa bem isso. Danem-se as questões importantes, dane-se a crise externa, dane-se tudo. Bom é fofoca e denúncia. A finalidade da política é impedir o país de fazer política. Nada acontece, dando a impressão de que muito está acontecendo.

Há uma tradição colonial de que nossa vida é um conto-do-vigário em que caímos. Somos sempre vítimas de alguém. Nunca somos nós mesmos. Ninguém se sente vigarista.

O fracasso nos enobrece. O culto português à impossibilidade é famoso. Numa sociedade patrimonialista como Portugal do séc. 16, em que só o Estado-Rei valia, a sociedade era uma massa sem vida própria. Suas derrotas eram vistas com bons olhos, pois legitimavam a dependência ao rei. Fomos educados para o fracasso. Até hoje somos assim. Só nos resta xingar e desejar o mal do país.

Quem tem coragem de ir à TV e dizer: "O Brasil está melhorando!", mesmo que esteja? Ninguém diz. É feio. Falar mal do país é uma forma de se limpar. Sentimo-nos fora do poder, logo é normal sabotar. O avião da TAM derreteu feito bala de açúcar na boca dos golpistas.

O fracasso é uma vitória para muitos. Não fui eu que fracassei, foi o governo, o “populismo”. O maior inimigo da democracia é a aliança entre o ideologismo regressista e a oligarquia vingativa. Nossos heróis todos fracassaram. Enforcados, esquartejados, revoltas abortadas, revoluções perdidas. Peguem um herói norte-americano: Paul Revere, por exemplo. Cavalgou 24 horas e conseguiu salvar tropas americanas na Guerra da Independência. Foi o herói da eficiência. Aqui, só os fracassados verão Deus.

O que moveu Pedro Simon e Arthur Virgilio foi a esperança do caos. Pedro Simon se acha o missionário da catástrofe. Ele é o ideólogo da explosão de furúnculos. Ele acredita no pus revelador. Virgilio quer levar em seu declínio o país todo com ele, cair destruindo, numa espécie de triunfo ao avesso. Ele é o último bastião do patrimonialismo tradicional, resistindo ao capitalismo impessoal.

Espalhou-se a teoria de que o problema do Brasil é "moral". Este "bonde" funk de neo-udenismo psicótico, este lacerdismo tardio, este trenzinho de "janismo" com "collorismo" visam impedir a modernização do país, sob a capa do "amor". São a favor da moralidade, mas contra a lei de Responsabilidade Fiscal.

Esta onda de moralismo delirante busca impedir a reforma das instituições, que estimulam a imoralidade. Tasso , tocando trombone sob um telhado de vidro, é o grande exemplo. Arthur Virgilio, com boquinha de ânus e vozinha de padre, outro.

Nossos intelectuais se deliciam numa teoria barroca da "zona" geral. O Brasil é visto como um grande "bode" sem solução, o paraíso dos militantes imaginários. Quem quiser positividade é traidor. A miséria tem de ser mantida "in vitro" para justificar teorias e absolver inações. A academia cultiva o "insolúvel" como uma flor. Quanto mais improvável um objetivo, mais "nobre" continuar tentando. O masoquista se obstina com fé no impossível.

Há um negativismo crônico no pensamento brasileiro. Paulo Prado contra Gilberto Freyre. Para eles, a esperança é sórdida, a desconfiança é sábia: "Aí tem dente de coelho, "alguma" ele fez...".

Jamais perdoarão Lula por ter abandonado a utopia tradicional e aderido à "realpolitik". Quase nenhum "progressista" tentou ajudá-lo nessa estratégia. Quem tentou foi queimado como áulico ou traidor, pela plêiade dos canalhas e ignorantes. Talvez tenha sido um dos maiores erros da chamada "social-democracia", talvez a maior perda de oportunidade da história. Agora, os corruptos com que Lula se aliou para poder governar querem afogá-lo na lama.

A "realpolitik" virou "shit politics".

Assim como o atraso sempre foi uma escolha consciente no século 19, o abismo para nós é um desejo secreto. Há a esperança de que, no fundo do caos, surja uma solução divina. "Qual a solução para o Brasil?", perguntam. Mas a própria idéia de "solução" é um culto ao fracasso. Não lhes ocorre que a vida seja um processo, vicioso ou virtuoso, e que só a morte é solução.

Vejam como o Brasil se animou com a crise atual. Ôba! É o velho Brasil descendo a ladeira! Viva! Os bons tempos voltaram!

Enviado por: Paulo

Sei que a maioria dos anti-Lula e anti-PT adoram a suposta contundência de Arnaldo Jabor. Leiam só o artigo dele na Folha sobre a tragédia da plataforma P-36, durante o governo FHC.

Trocas efetuadas no texto

Onde se lê: O avião explodindo
Leia-se: plataforma afundando

Onde se lê: populismo
Leia-se: neoliberalismo

Onde se lê: O avião da TAM
Leia-se: A plataforma da Petrobrás afundando

Onde se lê: Pedro Simon
Leia-se: Luiz Francisco

Onde se lê: Arthur Virgilio
Leia-se: ACM

Onde se lê: Lula
Leia-se: FHC

Onde se lê: social democracia
Leia-se: esquerda

PS – Perdão, Jabor, mas essa foi irresistível.

domingo, 22 de julho de 2007

À la recherche du temps perdu

É impressionante como as coisas podem mudar com um pouco mais de tempo e experiência. Na verdade, isso é uma meia verdade. O tempo sozinho nada faz. Tampouco a proclamada "experiência". Sem a reflexão somos como amebas, basicamente. Há algum tempo me achava especial, intelectual e espiritualmente até. Acho que apenas não tinha passado da fase egocêntrica, comum às crianças. Aí vieram algumas pressões, comuns à vida, como a do trabalho. Perplexo me tornei um pouco daquilo que mais odiava, um zumbi, quase um operário burocrata. E tudo por causa da maldita pressão. Perdi minha individualidade, personalidade, vida... E, ironicamente, a troco de outro troco. Não é curioso? Pressão... Muda tudo! Agora, busco me reencontrar e reconhecer nesse caos ordenado. Ainda estou me buscando.

Inglês

Hoje me senti bem inglês. Feliz o suficiente.

Música para este post na aveludada voz de Sinatra : "It happened in Monterrey, a long time ago. I met her in Monterrey, in old Mexico."

Confissões necessárias?

Acho que meu segredo é matar as pessoas com bondade. Todos somos como cartas vivas, lidas a todo o tempo. Temos segredos?

REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA

REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA

Trivial de um domingo musical

tango-waltz

ACM, a biografia

"Desde o ano passado, ACM falava, num misto de brincadeira e cobrança: "Ele está esperando que eu morra".

Referia-se ao escritor Fernando Morais, a quem há muitos anos entregou farta documentação pessoal para a confecção de uma biografia. ACM era um dos mais organizados políticos brasileiros quando se tratava de guardar sua própria memória.

Fernando Morais participou de um chat no UOL no dia 6 de julho de 2007. Contou ter, além dos documentos, cerca de 180 horas de conversas gravadas com o baiano que morreu no último dia 20.jul.2007.

No chat do dia 6 de julho, eis uma pergunta e uma resposta:

(01:21:17) moderador Bravo: Para quando é a biografia do ACM?


(01:21:58) Fernando Morais: Não sei para quando é a do ACM. Eu sei que não será, como ele anda dizendo, depois da morte dele.

Será. E este blogueiro não leu e já gostou, pois tende a ser um dos livros mais relevantes para quem deseja conhecer detalhes da política brasileira contemporânea."

Fernando Rodrigues (blogueiro acima)

Eu? Idem!

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Sobre ACM - por Mino Carta


Conheci Antonio Carlos Magalhães nos começos dos anos 70, e tive com ele uma relação de mais de 30 anos, a seu modo muito singular. Em visita à Editora Abril, então ancorada às margens do Tietê, ACM fez questão de conhecer o diretor de redação de Veja. Foi muito cordial. Fora prefeito nomeado de Salvador e há pouco tempo a ditadura militar o alçara à governança do seu estado. Dois, ou três anos depois, quando eu ainda dirigia Veja, fui dar uma palestra em um convescote de jornalistas em Salvador. Pronunciei as coisas de sempre, e como sempre destinadas a irritar os donos do poder. Nem por isso, o governador deixou de me convidar para um jantar em família no Palácio da Ondina, residencial oficial no topo de um morro. Como da vez anterior, muito afável e disposto a ouvir as minhas criticas. Sem pestanejar. Pouco tempo depois, sai de Veja, em beneficio da chantagem que o então ministro da Justiça (Justiça?), Armando Falcão, exercia há tempo sobre a Editora Abril. Aprovaria um empréstimo de 50 milhões de dólares da Caixa Econômica Federal à editora, desde que eu fosse demitido. Preferi me demitir. Enquanto o governador nomeado de São Paulo, Paulo Egydio Martins, escondia-se para evitar qualquer contato comigo, ACM ligou e me convidou para seguir para a Bahia, para assumir o controle da operação que visava a criação de um jornal. Carlista, obviamente. Declinei, mas não me envergonho de dizer que fiquei tocado, embora identificasse no gesto o desafio do mandatário da capitania hereditária. Oito anos após, ao se formar a chamada Aliança Democrática e foi lançada a candidatura de Tancredo Neves às indiretas, fui ancora de um programa na TV Record, então de propriedade da família Machado de Carvalho. Chamava-se “Jogo de Carta”, e ali, por mais de uma hora, entrevistei ACM, que figurava entre os cabos eleitorais de Tancredo. Mais um galope do tempo, e eis que o programa começa a desagradar o governo Sarney. O presidente não se dá bem com criticas, e seu ministro das Comunicações, Antonio Carlos Magalhães, inaugura uma temporada de pressões sobre Paulinho Machado de Carvalho, no comando da Record. É crise arrastada, que atinge o ponto de ruptura no momento da demissão de Dílson Funaro do ministério da Fazenda, primeiro terço de 1987. Prevista a saída do ministro em uma segunda, sei de tudo na sexta anterior, graças a um informante especial, o professor Luis Gonzaga Belluzzo, assessor de Funaro, com quem janto naquele dia. Combinamos uma gravação do meu programa na tarde de domingo, iria ao ar na noite de segunda, quando a demissão já estaria consumada. A gravação se deu, convoquei Luis Nassif para colaborar na tarefa. O suave professor não é de fazer estardalhaço e muito menos fofocas, disse algo, com comedimento, sobre as interferências do genro de Sarney, Jorge Murad, e da filha Roseana, coisa pouca, a bem da verdade, a despeito de entrelinhas mais ricas para bons entendedores. A demissão ocorreu dentro da programação, e na noite de segunda o “Jogo de Cartas” foi transmitido após o fato consumado. Naquele tempo, eu dirigia a revista Senhor, na Editora Três, e ao chegar de manhã à redação fui alvejado por um telefonema de Ulysses Guimarães. Estava muito agitado, disse, em tom insolitamente alterado: “Que vocês inventaram ontem a noite, o Planalto está em polvorosa”. Expliquei. Pediu-me uma cópia do tape. A agitação alcançou a Record. Fui claro com Paulinho Machado de Carvalho: “O próximo programa é com prefeitos do interior de São Paulo, mas o outro é com o Brizola”. O primeiro não deu problemas, está claro. Por ocasião do segundo, ao chegar o engenheiro Leonel percebi a inquietação geral. Uma equipe de censores estava de prontidão atrás dos vidros de uma salinha de controle. O programa foi ao ar às 2,30 da manhã, depois de um filme interminável que vagamente evocava as aventuras submarinas do capitão Nemo. De manhã fui à Record e disse ao Paulinho: “Olha, estou fora, mas entendo seus problemas com o ACM, e nós vamos ficar amigos”. Somos até hoje. Paulinho lançou um livro de memórias, recentemente, e eu entrei na fila dos autógrafos. Dedicou-me uma frase afetuosa, com referência às malvadezas daquele tempo. ACM ganhou mais uma parada, Sarney perdeu um crítico. Levei na esportiva, sou sincero. E em relação ao imperador da Bahia passei a me portar pragmaticamente. Sem panos quentes e sem rancores vãos. De sorte que, quando ele se tornou o condestável da candidatura de Fernando Henrique Cardoso em 1994, fui entrevistá-lo em Salvador, juntamente com Bob Fernandes. Foi a capa da segunda edição de CartaCapital, então ainda mensal. Estive em Salvador faz dias, ouvi de opositores ferrenhos de ACM: “Foi a melhor entrevista do homem”. Anos após, a mesma CartaCapital publicou mais de uma reportagem sobre as malvadezas de Toninho, mas só nos tempos da chamada crise do mensalão ele agrediu a mim e a revista de maneiras diversas e sempre injuriosas. Como se sabe, a morte não falha. Não me regozijo com esta, no entanto. Sei apenas que ACM foi um modelo de oligarca, intérprete perfeito de nossa história medieval, ainda em pleno andamento.

Falta coragem, falta convicção!


Parece-me que apenas o ainda (para desgosto de alguns) presidente da Venezuela Hugo Chaves não tem medo da Globo.

Fora Brizola, nenhum outro político brasileiro até o momento manifestou expressamente o desejo de questionar o monopólio das Organizações Globo.

Realmente é uma pena Lula deixar uma (uma?) coisa dessas "por menos". Falta coragem, falta convicção! Sem dúvida o presidente é um excelente conciliador, provavelmente uma grande característica política herdada do tempo de sindicalista, que aliás talvez tenha sido determinante para sua eleição. Entretanto, muitas vezes é preciso "reger a orquestra", isto é, dizer o que pode, o que é ou não aceitável, oras! Figura entre as inaceitáveis a flagrante tentativa de fomentar a desestabilização do governo. O mesmo se aplica aos jornais de grande circulação do país, que defende pontos de vista de parte da classe média, seu público alvo.

A passividade dele e de seus acessores tem me deixado cada vez mais estupefato. Não sou chavista. Longe disso até. Porém, confesso que às vezes me dá vontade de ter alguém com metade dos culhões daquele "caboclo" (expressão carinhosa do norte de Minas, que nada tem a ver com qualquer forma de racismo).

Chaves talvez tenha herdado isso do modus operandi in manu militari, quando era um reles soldado. Aprendeu bem com Fidel. Infelizmente não fizeram escola. Há muito medo na terra brasilis. Medo de parecer de esquerda, por enfrentar interesses empresariais das companhias aéreas, que aliás se beneficiam da conspiração midiática à qual muitos aderiram, apesar do quanto a imprensa se machucou no período eleitoral.

Cumplicidade

Cumplicidade
O Estado de S. Paulo | Luis Fernando Veríssimo |
19 de julho de 2007 | 04:09:20

Verissimo

Uma comprida palavra em alemão (há uma comprida palavra em alemão para tudo) descreve a 'guerra de mentira' que começou com os primeiros avanços da Alemanha nazista sobre seus vizinhos. A pouca resistência aos ataques e o entendimento com Hitler buscado pela diplomacia européia mesmo quando os tanques já rolavam se explicam pelo temor comum ao comunismo. A ameaça maior vinha do Leste, dos bolcheviques, e da subversão interna. Só o fascismo em marcha poderia enfrentá-la. Assim, muita gente boa escolheu Hitler como o mal menor. Ou, comparado a Stalin, o mau menor. Era notório o entusiasmo pelo nazismo em setores da aristocracia inglesa, por exemplo, e dizem até que o rei Edward VIII foi obrigado a renunciar não só pelo seu amor a uma plebéia mas pela sua simpatia à suástica. Não tardou para Hitler desiludir seus apologistas e a guerra falsa se transformar em guerra mesmo, todos contra o fascismo. Mas por algum tempo os nazistas tiveram seu coro de admiradores bem-intencionados na Europa e no resto do mundo - inclusive no Brasil do Estado Novo. Mais tarde estes veriam, em retrospecto, do que exatamente tinham sido cúmplices sem saber. Na hora, aderir ao coro parecia a coisa certa.

Comunistas aqui e no resto do mundo tiveram experiência parecida: apegarem-se sem fazer perguntas ao seu ideal, que em muitos casos nascera da oposição ao fascismo, mesmo já sabendo que o ideal estava sendo desvirtuado pela experiência soviética, foi uma opção pela cumplicidade. Fosse por sentimentalismo, ingenuidade ou convicção, quem continuou fiel à ortodoxia comunista foi cúmplice dos crimes do stalinismo. A coisa certa teria sido pular fora do coro, inclusive para preservar o ideal.

Se estes dois exemplos ensinam alguma coisa é isto: antes de participar de um coro, veja quem estará do seu lado. No Brasil do Lula é grande a tentação de entrar no coro que vaia o presidente. Ao seu lado no coro poderá estar alguém que pensa como você, que também acha que Lula ainda não fez o que precisa fazer e que há muita mutreta a ser explicada e muita coisa a ser vaiada. Mas olhe os outros. Veja onde você está metido, com quem está fazendo coro, de quem está sendo cúmplice. A companhia do que há de mais preconceituoso e reacionário no País inibe qualquer crítica ao Lula, mesmo as que ele merece.

Enfim: antes de entrar num coro, olhe em volta.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

E a pergunta que persiste...

Enquete



Por que o PT não denuncia a/o Globo porque cobre o acidente da TAM de forma a derrubar o Presidente Lula ?
PT tem medo da Globo
PT acha que a Globo cobre o acidente de forma correta
O PT não acha nada
O PT, que PT ?


Por gentileza, responda na seção destinada aos COMENTÁRIOS.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Desabafo de uma quarta com luto

Tentei em vão resistir a escrever sobre o fato. Mas isso seria fingir. Fingir que não sinto nada. E já fingi tanto nessa vida que... Cansei! E quer saber? Não penso muito na reação dos outros e já não me furto tanto em dizer a verdade como antes, doa a quem for. Porque é muito curta essa vida para fingirmos papéis de perfeitos, que nunca seremos. Quiçá perto disso. Não é também desculpa para errar com a "consciência limpa", é bom diferenciar. Se errar, errei. Mas pelo menos saio de alma mais limpa! E tudo tem seu preço... Com a minha pretensão de transparência não seria diferente.

O luto que se seguiu hoje me deixou sem a costumeira disposição para brincar. A tristeza pelo sofrimento das vítimas e familiares é inimaginável. Ou talvez apenas imaginável. O fato é que me enoja a maneira vil como tudo isso vem sendo tratado, quando se aproveitam de um momento de fragilidade emocional e comoção generalizada para atacar o governo sempre responsabilizado por tudo que de ruim existe nesse país. Mais parece um mantra, cada vez mais recitado, tenho a infeliz sensação. É ponto passivo que este governo erra muitas vezes - especialmente nos quesitos rapidez e punibilidade - e que, sim, pode num futuro próximo ser responsabilizado por atos de omissão concorrente, mas daí a supor que as investigações, ainda em andamento, são dispensáveis...

E a condenação não tardou a vir: hoje pela manhã às 7h no Bom Dia Brasil foi sumária e pretensamente inequívoca. Assisti perplexo, confesso-lhes. "Dispensem a abertura da caixa-preta!", cheguei a ouvir-lhes os gritos em pensamento.

Estão tentando transformar uma terrível tragédia num ato político imundo! Dos parentes nem exijo outra atitude, afinal no calor do momento é realmente difícil divisar razão e emoção... Mas dos outros, se não for por ignorância... E isso é também um horror!

Quanta catarse, meu Deus!! Confesso que o estômago revira.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Uma questão de costume


Quer chova ou neve, desde 1978, Woody Allen lança uma película, anualmente quase sempre. Há muito tenho acompanhado seus trabalhos com a tietagem de um fã, e sem ter qualquer pretensão de especialidade.

Posso dizer apenas o óbvio: ele está hoje um tanto longe de sua "velha forma", quando actuou e dirigiu clássicos como Annie Hall (1977) e [na minha opinião o melhor de seus filmes] Manhattan (1979).

Curiosamente - e quem sabe, de propósito? - de quando em quando ele responde às críticas de sua decadência como diretor e ator com a feitura de uma brilhante e envolvente trama. Esse é precisamente o caso de Match Point (2005), onde a diva "criminosamente sexy" [palavras do diretor] Scarlett Johansson estreou.

Abro aqui um pequeno parêntese para falar dela: Ganhou o epíteto de "tentação loira" por lembrar Marilyn Monroe. Entretanto, felizmente sua beleza, reconhecida mundialmente, não figura entre seus principais atributos... O talento lhe sobressai, exalando o perfume do convencimento [prometido um post futuro]. Woody viu isso de cara, e não desgrudou mais dela. Convidou-a para fazer Scoop - O Grande Furo (2006) e uma pré-produção para 2008, chamada Woody Allen Spanish Project, já está sendo gestada. Talvez depois de Diane Keaton [outro prometido!], esta seja sua nova fixação. Quiçá para sempre.

Match Point fala da importância da sorte. Jamais nega o valor do trabalho. Mas o "ter sorte é fundamental para se ter sucesso!" aparece como um mantra a ser recitado pela personagem principal, Chris Wilton. E quando chega a hora de decidir entre ser feliz e ter sucesso, o que lhe pesará mais na balança? Paixão? Tentação? Obsessão?
Numa das cenas, Wilton é apanhado lendo o clássico de Dostoiévski, Crime e Castigo. Há semelhanças e distâncias entre ele e Raskólnikov. Talvez o invejasse...

O filme é um dos poucos passados fora dos EUA. As cenas se dão em Londres e no maravilhoso interior da Grã-Bretanha. A aristocracia britânica, é claro, se faz bem presente nele, dando visão a um misto de luxo e cultura tipicamente europeus.

É certamente o melhor filme de Woody dos últimos anos. E a quem não o assistiu ainda recomendo fortemente!

P.S.: Annie Hall [um nome próprio, diga-se], que no Brasil foi incrivelmente mal traduzida por Noivo neurótico, noiva nervosa, apenas comprova o sentido etimológico da referida palavra: uma traição só!

Trilha pra este post: O Figli Miei! - Verdi (linda ópera!)

sábado, 14 de julho de 2007

Connie Talbot, do Britain's Got Talent

Britain's Got Talent- Connie

Uma menininha de apenas seis anos... Blowed me away! (saibam o porquê)

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Minha poetisa preferida

Na dona [suponho, porque é sensível demais pra ser homem] desse blog Lingüística encontrei uma alma gêmea, se isso existe. Começo a crer, porque leio suas palavras. Calam fundo no peito e me doem como parto. Arrancam os mais íntimos e recônditos suspiros em meio à minha secura de alma. Marcou em mim feito tatuagem, alucinógena. Repouso frouxo depois desse peso, com a alma sedenta cruelmente retalhada. Ei-la:

"Vivo de amor, sou amor até a última gota de sangue insano que corre por minhas veias.
Expande, domina, transcende.
Sinto uma estúpida vergonha por amar assim, sem limitações. Sinto extrema liberdade pelo mesmo motivo.
Amar é não ter limites; limitado é o homem em suas idéias e concepções.
Expande, domina, transcende.
Pense grande, ultrapasse seus próprios limites do real. Não seja bitolado, deixe de teimosia.
Respira, porque esse é o essencial; o resto acompanha.
Amar purifica os pulmões, ignora até os efeitos do cigarro.
Expande, domina, transcende.
O que é uma vida sem amor?"

De nada vale.

Bem-vindo ao mundo dos Blogues


Venho abrir um espaço para colocar algumas coisas em dia, num misto de confissões e elogios.

Bem, primeiramente devo dizer que a idéia de criar um blog jamais havia me ocorrido. Pra ser sincero, nem mesmo sabia o que era direito. Por convite do Mauro [o Rawl] resolvi despretensiosamente criar este aqui.

Há bem pouco não dispunha de tempo suficiente pra investir nisso, como desejava. Agora, quando tomo em definitivo as rédeas de minha dolce vita, perplexo descubro uma vez mais o mundo dos blogues! Quanta cabeça boa vaga por aí pensado coisas bacanas!! Então, entusiasmadamente elegi e decidi compartilhar com o mundo alguns dos meus pensadores contemporâneos preferidos, meus [[Confrades]]. Ficou meio cheio eu sei, mas garanto uma satisfação diferente em cada um deles, cuidadosamente escolhidos por critérios pessoais e subjetivos de empatia, saibam de antemão.

Já havia dito ao padrinho do blog o quanto me desanimava a ausência de comentários. Decidi não me importar com isso mais. Então resolvi escrever sobre música e deixar um pouco a política nacional de lado, ao menos em alguns posts, afinal realmente não são todos os que apreciam o tema, posto que já vivemos imersos num vulcão [em plena atividade] de informações que nos inundam diariamente à revelia de qualquer desejo individual. Essa é nossa Era! Irreversível, pro bem ou pro mal.

Decidi postar sobre a diversidade que, penso, deve compor um blog: "numa mistura política com receitas de comida e bebidas com nomes estranhos e indicação de restaurantes sofisticados!". Ou nem tão sofisticados assim... Mas enfim, é bom servir de quando em quando "arroz com feijão". Dá sustância!

(...)

Ontem fui agraciado com um comentário do Belino: simples e pequeno. O que me deixou mais contente, porém, não foi a anuência com meus ideiais estéticos ou musicais. Foi ter sido 'descoberto'! O fato de não conhecê-lo [ele parece morar no Rio] é um mero detalhe. Gostamos de escrever. Isso nos une. Period! Por curiosidade me pergunto como ele achou meu blog [só ele poderá dizer], que quase ninguém sabe que existe... Às vezes me divirto pensando que ele simplesmente buscou o link do canto superior onde se lê Próximo blog, coisa que eu já fiz milhares de vezes. Chamo-a de roleta-russa dos endereços de blogues, afinal é absolutamente aleatório [se não acham isso, me estou aberto à conversão. jejeje].

Nosso ideal de elegância passa pelo que penso ser mais caro e difícil num blog: a interatividade, que dá o tempero certo e confere sabores diversos às discussões. Aqui pretendo exibir uma alternativa aos "aeroportos da vida", onde o cliente relaxa e goza... Assim, o rumo do blog não perderia para a "importunação estridente, frustrada ou zangadiça", da qual nos falou o Nassif.

A pressão me ajudou a produzir mais e com maior qualidade, abrindo a mente pra coisas novas... Saí da fase da frustração para a da maior produtividade e interatividade!! Oxalá seja verdade!
Bjsss

quinta-feira, 12 de julho de 2007

De volta a Trento!


Papa Ratzinger [a foto ao lado foi só pra sacanear... jajaja] mostra mais uma vez a que veio. Em seu discurso vem agora informar aos viventes 'desamparados pelos tentáculos' da Igreja romana que já se encontram em franca condenação à danação eterna, porque "a religião católica é a única, verdadeira".

Com tal pretensão 'comemoramos' um retrocesso de quase 500 anos na história não muito elogiosa dessa instituição chamada católica apostólica romana. Ironicamente, a humildade é um valor exaltado pelos mesmos que ora 'pregam' a exclusão de outros grupos cristãos. Bem, não cobraria deles coerência se não dissessem aos quatro ventos tê-la...

Deixei de lado minha admiração
pelo intelectual que o papa representa para tentar digerir uma coisa dessas. Ainda mais sabendo que ele tentou acobertar crimes de padres pedófilos nos EUA, quando ainda ocupava o cargo de cardeal no Estado do Vaticano. E pasmem com o alcance da justiça americana: chegou a ser indiciado lá por tentar interferir no curso do processo na América. Nada mais justo, porque isso configura crime também. Mas foi preterido por ser exatamente representante de Estado estrangeiro. Duro é sentir da Igreja romana uma condescendência desse porte. Genuíno espírito corporativista. Enoja!

Meus francos botões me dizem, insistem em dizer, que se o próprio Pedro [o apóstolo] viesse aqui tirar satisfações com seus supostos representantes eles cairiam das nuvens! Se viesse Martinho Lutero ["
o santo da justa rebeldia"], porém, seria um verdadeiro duelo de titãs, realmente homérico...

Há tanto a ser questionado nessa Igreja "verdadeira" que basicamente me ponho ao lado de Lutero, que não era muito humilde, reza a lenda, mas pelo menos tentou mudar o que havia de podre na tal Igreja,
tentando em vão reformá-la ao mostrar-lhes o calcanhar de Aquiles. O que fizeram? Quase o queimaram, como a tantos outros. Que piedade é essa, afinal?

A próxima medida do papa alemão será retornar ao latim como língua oficial de celebração das missas.
Genial! Já posso ouvir os grilos a coachar nas imponentes catedrais mundo afora.

P.S.: Não me admira muitas pessoas odiarem esses tipos de "cristãos". Não há como gostar de gente assim...

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Baker, Chet


Ouço Chet Baker horas a fio. Seu gênero, jazz cool, tem estruturação fincada em música maior. Mas e daí? Quem se importa?? Ele tem a mesma qualidade de Ella, Sarah ou Billie, rara entre brancos.

A ausência de um certo número de dentes (sim, ele usava drogas 'a rodo') davam visão a uma estranha contradição: a fealdade da face e do sorriso misturadas à voz curiosamente andrógina. Jamais, entretanto, me impediram de apreciá-lo em seu conjunto.

E foi ouvindo-o que perdi a consciência de mim mesmo... Como em grande música.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

O ministério das Comunicações adverte: este órgão apoiou o golpe de 1964 e suas conseqüências


Me cansa perceber o quanto nossa cultura é condescendente com os erros políticos alheios. Não me refiro apenas aos do passado. Incluo aí nesse rol os do presente e mesmo os anunciados!

Todos os dias um sem-número de denúncias inundam as mesas da sala de estar Brasil afora, do café matinal ao jantar, como uma tsunami, sem que se faça caso disso, por mais irônico que pareça.

Renan é um caso clássico, nesse sentido. Resiste (resiste?) impassível a quaisquer provas que a Polícia [Republicana] Federal traga à lume, escondendo-se atrás da Presidência do Conselho de Ética, no qual vergonhosamente julgaria (inacreditável??) em causa própria. Nada mais teatral. As provas estão aí, só não as vê quem não quer. E é certo prever o desfecho... Nem tampouco nossa mídia oligárquica (e golpista) não nos deixaria esquecer.

Renan é base de sustentação do governo Lula. Esse é o único motivo - não suas presepadas políticas, patrimoniais, matrimoniais ou até manicomiais - que o faz ser atacado noite e dia na grande mídia, que tem por alvo minar as bases do governo.

Antes de prosseguir, declaro que o fato de que Lula desperdiça sua taxa de aprovação apoiando o sr. Calheiros é nojento. Nada, nem a tal "governabilidade", justifica um ato desses. É de uma burrice só explicada pelo medo em desagradar exatamente a quem deve-se desagradar.

Quanto ao Vavá, penso e indago aos meus botões se no governo de FHC, o irmão do então presidente seria alvo de investigação ou mesmo se isso 'vazaria' na grande mídia... Talvez assim creiam os cândidos. Mas um "provavelmente NÃO" é a resposta que obtive desses incrédulos botõezinhos! Isso mostra a independência da Polícia [Republicana] Federal no atual governo, deve-se ressaltar.

Nossa mídia, excetuando-se a CartaCapital, é descaradamente golpista! Quer desestabilizar a todo custo o governo do ex-metalúrgico. Atribuem sua absurda vitória [e atual popularidade] à ignorância do populacho sem instrução [na verdade, nisso têm em parte razão, pois o povo não tem muito mais do que o próprio fôlego de vida... No entanto, subestimá-los é apenas mais uma expressão de seu racismo e preconceito de classe (vide figura acima)].

Bem relembrou-nos Cláudio Lembo, ex-governador de São Paulo, em certa entrevista a Paulo Henrique Amorim:
Abre aspas.
O Brasil vai bem, mas é um país complexo. Veja só essa safadeza toda. É que o Brasil não conhecia a liberdade. Conheceu e deu nisso. Veio à tona o Brasil branco. E o Brasil branco sempre foi safado!
Fecha.

Precisa dizer mais?

Duas observações - Mino Carta


"É do conhecimento até do mundo mineral, faz 43 anos, que o governo dos Estados Unidos deu apoio político, material e financeiro ao golpe de 1964. O então embaixador americano Lincoln Gordon e a CIA participaram da conspiração para derrubar o governo de João Goulart e instalar no País uma ditadura que durou 21 anos. Com o aval da chamada elite brasileira, da chamada classe média e dos mesmos órgãos midiáticos que hoje divulgam as provas da conspiração fornecidas pelos documentos secretos tornados públicos pelos EUA. Permito-me duas observações. Primeira. Os jornais falam do assunto como se tivessem sido vítimas de uma ditadura que só não foi mais feroz porque não precisou, embora não tenha hesitado em aposentar o Estado de Direito e prender, torturar e matar inúmeros sonhadores da liberdade. Houve também censura, mas a história foi e continua a ser contada de forma insuportavelmente imprecisa. Recordo que durante um debate no Fórum Social de Porto Alegre em 2002, um dos meus interlocutores, Ignácio Ramonet, redator-chefe do Le Monde Diplomatique, falou da censura no Brasil como se tivesse alvejado a mídia em geral. Tive de corrigi-lo e ele caiu das nuvens. Nem sempre os jornalistas estrangeiros são tão bem informados como imaginamos. Dos jornalões nativos, o único sob censura, exercida na redação com autorização para preencher os espaços em branco com versos de Camões e receitas de bolo, foi o Estadão. Tratava-se do resultado de uma briga em familia, igual àquela que se deu entre os militares e Carlos Lacerda, enfim cassado. O jornal da família Mesquita e o ex-governador do Rio achavam ter direito à partilha do poder, mas a ditadura fardada, e quem estava por trás dela, não tinham o mesmo entendimento. Censurados impiedosamente nos QGs da Policia Federal, e submetidos a constantes humilhações, foram os órgãos de tendência, imprensa nanica, dizia-se então, (Opinião, Movimento, Pasquim, O São Paulo, jornal da Cúria paulistana, etc.) e a revista Veja, aquela que tive a honra e o orgulho de dirigir, e da qual a censura só saiu depois da minha saída e por causa dela. A segunda observação diz respeito à política dos Estados Unidos e aos seus agentes. Segundo o embaixador Gordon, o Brasil estava à beira da guerra civil e Washington deveria impedir que se tornasse a China dos anos 60. É o que registram os tais documentos, escancarados 43 anos depois. Aqui, os jornalões advertiam em editoriais enraivecidos contra a subversão em marcha. O golpe ocorreu, porém, no espaço de mirradas horas e não encontrou a mais pálida sombra de resistência. Não houve guerra civil, o sangue não inundou as calçadas. A seu modo, é um golpe patético. E a marcha da subversão estou a esperá-la até hoje. Haverá quem diga que o governo americano e seu embaixador não passavam de raposas hipócritas, os Talleyrand da hora. Quero dar um crédito de confiança à sua boa fé. Os EUA de Lyndon Johnson eram o mesmo misto de arrogância, prepotência, desinformação, ingenuidade e primarismo dos EUA de Bush Junior."